O presente de 2014.

Minha vida é uma eterna busca, e sei que não sou a única a sentir isso. Poucos são os agraciados que, desde cedo, descobrem o seu cantinho no mundo. Sempre invejei essas pessoas…

Li livros de estranhos que me diziam como eu deveria me entender. Tive inúmeras crises existenciais, que me aproximaram e me afastaram de religiões, pessoas, esportes, músicas… De forma inconsciente, eu fugia de uma atividade incompleta substituindo-a por outra nova, até que o tédio me tomava e de repente eu já me interessava por uma terceira coisa. Apesar da coleção de pessoas incríveis que encontrei no caminho, essas mudanças constantes não me acalmavam o coração. Se nada do que eu havia feito até então me completava, significava que meu lugar no mundo permanecia vazio, aguardando que eu o encontrasse.

“Calma, você ainda é muito nova”, me diziam. Eu sei, meu bem, mas diga isso para a minha apatia taquicárdica e faça-a entender que tudo tem seu tempo. Não dá, né? Enquanto eu não me encontro, vivo uma existência nômade que me enche de angústia e produz ansiedade, essa diaba que me acompanha desde a infância e me faz comer que nem o Drogon.

No que diz respeito a realização profissional, nunca achei que eu estivesse no caminho oposto ao que eu deveria estar. Ele estava apenas desalinhado. Não é como se eu tivesse formado em medicina e quisesse fazer matemática. Pelo contrário, estas duas áreas sempre foram rechaçadas de plano pelo meu coração. Para mim é um fato: não há nada mais encantador, profundo e maravilhoso do que as ciências humanas. Pelo menos no gênero eu acertei. Faltava-me a espécie.

Ao sair fracassada da prova de um concurso para o qual me dediquei, surgiu em minha mente uma visão. Voltei para novembro de 2012, quando encontrei no meu pc uma antiga conversa de MSN com um amigo que tinha acabado de falecer. Falávamos sobre o futuro e a leitura daquela conversa, aleatória à época e dolorosa naquele instante, causou-me profunda tristeza. Minha perspectiva de futuro era medíocre, mas a dele eu achava sensacional. E, no entanto, enquanto seu caminho fabuloso foi muito curto, a minha mediocridade seguiria em frente, e isso não me pareceu nada justo. Eu tinha que fazer algo para modificar essa felicidade parcial que eu estranhamente almejava.

Às vezes estamos tão inseridos em um determinado contexto que acabamos sendo seduzidos por ideias que nem sempre traduzem o nosso verdadeiro sonho. Embora o que eu mais gostasse de fazer fosse escrever, eu estava forçando o meu cérebro a decorar leis para marcar a bolinha certa no gabarito. Não havia interpretação, e muito menos espaço para criação, mas apenas acumulação de conteúdo mediante uma cansativa repetição. Isso potencializou a minha angústia.

Peço licença aqui para explicar minha profunda insatisfação com essa alienação generalizada da área de atuação que escolhi aos meus sábios 18 anos. O direito é lindo e sua importância na sociedade é absolutamente inquestionável, mas a vastidão desta ciência acabou tornando muitos dos seus estudiosos fechados em si mesmo e alheios à fonte da qual emanou a própria ciência tão exaltada: a sociedade. Os fatos sociais. A interação social.

Social.

S-o-c-i-a-l.

Sociologia.

O som da palavra me transmitiu imediata paz. As letras que a compõem ficaram mais bonitas ao formarem este maravilhoso significado: o estudo da sociedade.

Era isso.

Meu cérebro processou tudo isso em alguns segundo, enquanto eu olhava o mundo pela janela do carro, a caminho de casa. Iniciou-se um diálogo:

– Como foi a prova?

– Foi ok. Mas a concorrência é muito grande.

– Você vai estudar para outro concurso?

– Não. Quero estudar Sociologia. Junto com o Direito.

E para a minha surpresa, veio uma exclamação positiva:

– Acho uma ótima ideia. Vá em frente.

E contra toda a procrastinação que me compõe o ser, eu fui.

Pela primeira vez li livros científicos como se estivesse lendo romances.

Pela primeira vez estudei até duas horas da manhã e sequer vi o tempo passar.

Pela primeira vez abdiquei automaticamente de outras atividades, pois esta me exigia concentração e esforço, mas não me exigia transtorno mental. Logo, não foi tão doloroso dizer adeus às outras.

Pela primeira vez fui dormir sorrindo depois de um dia inteiro lendo. E não era Harry Potter. Nem As crônicas de gelo e fogo.

Era o meu lugar no mundo.

De todas as conquistas deste ano, esta valeu por todo o luto dos dois anos anteriores.

O caminho parece mais alinhado, e ainda que o arrependimento algum dia me abata, estou escrevendo isso agora para registrar o presente sentimento: estou feliz com a minha escolha. E com a minha vitória:

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2 pensamentos sobre “O presente de 2014.

  1. Parabéns Rebs.. fico feliz em ler e saber que vc está bem, feliz e focada em algo que vc gosta. Sociologia é muito legal mesmo. Tenho poucas leituras, é verdade. A maioria foi inspirada nas aulas ainda na faculdade e outras quando trabalhei com um juiz muito sensível nessas causas. Parabéns e felicidades. 😊😊

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