ANJOS, Augusto dos. STONE AGE, Queens of the.

O morcego

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela igneo e escaldante molho.

“Vou mandar levantar outra parede…”
— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

*****

Às vezes penso que esse pessoal está todo conectado… E sim, lembrei que tenho um blog.

O presente de 2014.

Minha vida é uma eterna busca, e sei que não sou a única a sentir isso. Poucos são os agraciados que, desde cedo, descobrem o seu cantinho no mundo. Sempre invejei essas pessoas…

Li livros de estranhos que me diziam como eu deveria me entender. Tive inúmeras crises existenciais, que me aproximaram e me afastaram de religiões, pessoas, esportes, músicas… De forma inconsciente, eu fugia de uma atividade incompleta substituindo-a por outra nova, até que o tédio me tomava e de repente eu já me interessava por uma terceira coisa. Apesar da coleção de pessoas incríveis que encontrei no caminho, essas mudanças constantes não me acalmavam o coração. Se nada do que eu havia feito até então me completava, significava que meu lugar no mundo permanecia vazio, aguardando que eu o encontrasse.

“Calma, você ainda é muito nova”, me diziam. Eu sei, meu bem, mas diga isso para a minha apatia taquicárdica e faça-a entender que tudo tem seu tempo. Não dá, né? Enquanto eu não me encontro, vivo uma existência nômade que me enche de angústia e produz ansiedade, essa diaba que me acompanha desde a infância e me faz comer que nem o Drogon.

No que diz respeito a realização profissional, nunca achei que eu estivesse no caminho oposto ao que eu deveria estar. Ele estava apenas desalinhado. Não é como se eu tivesse formado em medicina e quisesse fazer matemática. Pelo contrário, estas duas áreas sempre foram rechaçadas de plano pelo meu coração. Para mim é um fato: não há nada mais encantador, profundo e maravilhoso do que as ciências humanas. Pelo menos no gênero eu acertei. Faltava-me a espécie.

Ao sair fracassada da prova de um concurso para o qual me dediquei, surgiu em minha mente uma visão. Voltei para novembro de 2012, quando encontrei no meu pc uma antiga conversa de MSN com um amigo que tinha acabado de falecer. Falávamos sobre o futuro e a leitura daquela conversa, aleatória à época e dolorosa naquele instante, causou-me profunda tristeza. Minha perspectiva de futuro era medíocre, mas a dele eu achava sensacional. E, no entanto, enquanto seu caminho fabuloso foi muito curto, a minha mediocridade seguiria em frente, e isso não me pareceu nada justo. Eu tinha que fazer algo para modificar essa felicidade parcial que eu estranhamente almejava.

Às vezes estamos tão inseridos em um determinado contexto que acabamos sendo seduzidos por ideias que nem sempre traduzem o nosso verdadeiro sonho. Embora o que eu mais gostasse de fazer fosse escrever, eu estava forçando o meu cérebro a decorar leis para marcar a bolinha certa no gabarito. Não havia interpretação, e muito menos espaço para criação, mas apenas acumulação de conteúdo mediante uma cansativa repetição. Isso potencializou a minha angústia.

Peço licença aqui para explicar minha profunda insatisfação com essa alienação generalizada da área de atuação que escolhi aos meus sábios 18 anos. O direito é lindo e sua importância na sociedade é absolutamente inquestionável, mas a vastidão desta ciência acabou tornando muitos dos seus estudiosos fechados em si mesmo e alheios à fonte da qual emanou a própria ciência tão exaltada: a sociedade. Os fatos sociais. A interação social.

Social.

S-o-c-i-a-l.

Sociologia.

O som da palavra me transmitiu imediata paz. As letras que a compõem ficaram mais bonitas ao formarem este maravilhoso significado: o estudo da sociedade.

Era isso.

Meu cérebro processou tudo isso em alguns segundo, enquanto eu olhava o mundo pela janela do carro, a caminho de casa. Iniciou-se um diálogo:

– Como foi a prova?

– Foi ok. Mas a concorrência é muito grande.

– Você vai estudar para outro concurso?

– Não. Quero estudar Sociologia. Junto com o Direito.

E para a minha surpresa, veio uma exclamação positiva:

– Acho uma ótima ideia. Vá em frente.

E contra toda a procrastinação que me compõe o ser, eu fui.

Pela primeira vez li livros científicos como se estivesse lendo romances.

Pela primeira vez estudei até duas horas da manhã e sequer vi o tempo passar.

Pela primeira vez abdiquei automaticamente de outras atividades, pois esta me exigia concentração e esforço, mas não me exigia transtorno mental. Logo, não foi tão doloroso dizer adeus às outras.

Pela primeira vez fui dormir sorrindo depois de um dia inteiro lendo. E não era Harry Potter. Nem As crônicas de gelo e fogo.

Era o meu lugar no mundo.

De todas as conquistas deste ano, esta valeu por todo o luto dos dois anos anteriores.

O caminho parece mais alinhado, e ainda que o arrependimento algum dia me abata, estou escrevendo isso agora para registrar o presente sentimento: estou feliz com a minha escolha. E com a minha vitória:

image

O encosto

Também conhecido por procrastinação. Aquela que te incentiva a fazer várias coisas úteis na sua vida tais como:

– jogar candy crush

– assistir todas as novelas da globo como se não tivesse uma pilha de livros te esperando

– dormir, tirar uma soneca, esticar a coluna, “ficar quietinha aqui só uns minutinhos e depois eu começo a (insira aqui algo de fato importante)”

– jogar candy crush

– olhar o facebook. E depois o instagram. E depois o twitter. E o facebook de novo.

– ver o vídeo da vez do Porta dos Fundos

– Whatsapp com seus mais de 14 grupos (3 dos quais as pessoas não calam a boca; 2 dos quais você tem vontade de sair, mas tem medo de bancar a chata antissocial)

– jogar candy crush (que desgraça na vida do ser humano, esses doces!)

– assistir aos episódios de Homeland (ainda estou: indignada/arrasada/devastada/multilada com o final da terceira temporada) ou qualquer outra série maravilhosa que só acrescenta assunto entre você e seus melhores amigos (como se não tivessem assunto suficiente)

– Olhar novamente o facebook e, ao encontrar compartilhamentos interessantes de pessoas que realmente estudam e fazem algo que contribua para o mundo, sentir-se mal pelas inúmeras coisas que você devia fazer e não faz.

– jogar candy crush para fazer a tristeza passar.

***

Escrevi isso há alguns meses atrás. Acrescente ao lado do “jogar candy crush” jogar “perguntados”, “limbo” e “free fall”…

Fico aqui me perguntando por que eu comprei um 3DS, se meu celular já é distração suficiente…

 

Por fim, deixo uma música adorável, que representa um dos maiores motivos de procrastinação deste ser que vos fala:

Linha 512

Saiu do prédio onde trabalhava e caminhou calmamente até a parada de ônibus. O dia estava quente, como de costume, mas o sol se escondia entre as nuvens cinzas. Uma promessa de chuva para mais tarde…

Em menos de um minuto chegou à parada. Pensou na ironia que era o fato de que ela andava poucos passos para esperar o ônibus e andava praticamente um quilômetro para chegar ao seu carro, que antes ficava parado em um estacionamento gigante, junto a inúmeros outros.

Assustava-se com a preferência da maioria das pessoas por ter um carro. Dirigir no engarrafamento, procurar vaga em estacionamento lotado, o valor da gasolina, havia vários outros motivos que superavam o conforto de ter um meio de locomoção com ar condicionado… Mas esta era apenas a sua opinião.

Seu ônibus não demorou muito. Subiu no 512 e o encontrou quase vazio. Normal para o horário.  Sentou-se bem ao fundo, ao lado da janela. A brisa quente e abafada que tocou seu rosto quando o veículo entrou em movimento fez com que ela fechasse os olhos e aproveitasse a viagem.

Vender o carro foi a melhor coisa a fazer, disso ela não se arrependia. Gostava daquele momento em que era expectadora da vida. Ficava observando as pessoas nas ruas, ou os demais passageiros que conversavam ou se preocupavam com a própria vida.

Abriu os olhos e viu um garoto e uma garota sentados lado a lado no banco da frente. Não pareciam ter mais de 19 anos… Deviam estar voltando da faculdade, pois seguravam livros e cadernos. Prestou atenção à conversa:

– Qual o nome do curso que você está fazendo, mesmo?

– Ciências Sociais.

– Acredita que nunca tinha ouvido falar? Parece maravilhoso.

– E é.

– Você me empresta esse livro do Durkheim? Queria saber mais sobre as ideias dele.

– Leva. Mas devolve! Tu vais curtir.

– Prometo.

– Devolver ou curtir?

– Os dois. Olha como é chato o que eu tenho que estudar… Francamente, meu curso não é nada animador…  Fontes… Nada a ver…

– Tem a ver sim! Essa parte é importante… Tudo é importante…

– Queria ler Harry Potter. Será que vai demorar muito para lançarem o novo livro?

– Vixe, tu gosta dessas coisas, é?

– Você já leu?

– Vi os filmes. Os dois primeiro só. Bobinho…

– Não é a mesma coisa que ler os livros.

– Tu vai gostar mais de Durkheim, aposto.

– Duvido muito.

– Ah, então esse papinho de que o que eu estudo é legal só é empolgação, né? Não há nada melhor que Harry Potter…

– Não foi isso que eu quis dizer. Eu só… Eu não tenho como dizer qual o melhor se só li um dos concorrentes!

– Essa literatura fantasiosa não tá com nada… Coisa de criança. Tu tá na faculdade, francamente…

– Ei! Eu a-ca-bei de entrar na faculdade. E não é pra criança… Meu irmão é 9 anos mais velho que eu e adora.

– Deve ser bitolado que nem tu…

– Bitolado?!

– É. Esse mundinho aí de mentiras…

– Han? Como assim? Para de rir!

– Mas é engraçado, pô…

– O que é engraçado?

– Tu aí com esse teu cabelo verde e esse discurso de gostar de Durkheim. Não é coerente com o que tu és.

– E o que você sabe sobre mim? A gente mal se conhece…

– Sei o colégio de onde tu veio. Aquele de riquinho… Gente diferenciada…

– Ai, me poupe! Não tenho nada a ver com aquelas pessoas… Não é à toa que…

– Que o quê? Que o teu cabelo é colorido? Quer mostrar o quanto tu não pertence a esse mundo do qual tu veio? Não adianta nada se as tuas ideias continuam as mesmas…

– Eu tenho que parar de gostar de Harry Potter, então?

– Claro que não! Admito, isso também é legal. Mas olha em volta. Não te parece interessante tudo o que acontece agora?

– Parece tudo muito normal… Pessoas trabalhando, indo ou voltando da escola, conversando ou discutindo, uma certa criminalidade rolando…

– O crime é normal! Tu já sabe mais sobre Durkheim do que tu imagina!

– Sério? Tá vendo? Não preencho o estereótipo dos alunos do CEAM…

– Pode ser que não…

– E você? Está generalizando ao dizer que todo mundo do CEAM é bitolado só porque é “escola de riquinho”. Isso também não é ser bitolado?

– Provavelmente. Todo mundo é bitolado.

– Bela conclusão… Ah, não, olha só! Um gatinho atravessando a rua…

– Vai virar pastel…

– Não fala isso!

– Leva ele pra casa…

– Já tenho três. Se eu aparecer com mais um, sou expulsa de casa… Ufa, atravessou! Muita sorte… Ai, odeio ver animais de rua.

– E gente?

– Gente? Gente também… Mas pelo menos uma pessoa sabe atravessar a rua… Mas realmente… Vi um menino crescer nas ruas, ele fica lá perto de casa… Perdeu a infância pedindo dinheiro nos sinais… Iguais a ele tem tantos… Talvez seja por isso que às vezes, fugir para um mundo de fantasia seja tão tentador…

– É. Eu te entendo.

– Há dois segundos atrás, tava me criticando… Diria até que me ofendendo…

– Deixa disso, tava só brincando.

– Você gosta de ser polêmico, nunca vi.

– Só gosto do debate.

– Nunca gostei de debates…

– Por que não?

– Não sei… Acho que nunca sei o que responder.

– Sabe sim. Acabou de participar de um.

– Isso não valeu…

A buzina do ônibus fez a expectadora piscar algumas vezes e olhar em volta: o ônibus estava lotado e ela já teria que descer daqui a duas paradas. Ao levantar e caminhar em direção à saída, ela mirou o banco a sua frente e viu uma senhora idosa recebendo de sua provável neta um tutorial de como mexer em um smart phone. Os jovens tagarelas já tinham saído daquele ônibus há muito tempo.

A música que não sai da cabeça…

Como não amar Frozen, gente?!

NÃAAAAO! Não a música, o filme! Embora essa música seja maravilhosa…

Falo disso aqui:

A Disney sempre se superando, né? Tiro o chapéu para essa indústria… E depois do balé, onde todo final de ano a gente apresenta algo da Disney, não tem como não ficar ainda mais apaixonada pelas histórias. Toda pessoa desse mundo merece ir uma vez na vida à Orlando para conhecer a Disney. Pena que é esse absurdo de caro… =/

Frozen fala de amor fraternal e, de acordo com as pesquisas, 99,9% das pessoas que tem irmãs, após assistirem ao filme, mandam um whatsapp cheio de coraçãozinho ou ligam pra falar “eu te amo” pra sua irmã querida. Ou as duas coisas.

Tread lightly and have an A1 day!

Dica do dia: se você estiver sem o que fazer, lave o seu carro.

Isso mesmo, vai lavar seu carro! É o mínimo que você pode fazer, minha filha. Aquela poeira não vai sair de lá sozinha… E quem sabe isso não te motiva a leva-lo para desamassar e tirar aquela tinta amarela da porta traseira? (resquícios de um inesquecível encontro do seu carro com a coluna do Millennium Shopping)?

Chegue a sua casa com esse propósito. Afinal, é importante manter a ideia viva durante todo o trajeto trabalho-casa, para que ela não morra quando você chegar e olhar para o vídeo game.

Procure no Google “como lavar carro” e observe as instruções. Mas não acredite em tudo o que está lá, confirme as informações com o seu cunhado que sabe tudo sobre carros.

Separe o material e comece antes que dê preguiça!

A ideia é fazer desta tarefa um conjunto de objetivos a serem finalizados, quais sejam:

– deixar o carro limpo;

– fazer bom uso da sua tarde;

– obter o efeito terapêutico que só uma atividade braçal consegue te dar (depois de passar o dia com o cérebro voltado para o processo civil, você precisa de um tempo para não pensar!);

– economizar 20 reais (pense no vídeo game que você tem que pagar);

***

Deixei minha cadela peluda andar pelo pátio molhado enquanto eu trabalhava, sem pensar na sujeira das patas quando ela pisava na água suja, mas apenas na satisfação de tê-la ali por perto dividindo o momento. Fiquei imunda e o carro, lindo.

Ao terminar, eu me senti bem melhor.

É porque veja bem, eu tenho uma séria dificuldade em terminar coisas. Já falei disso aqui. Sempre começo, nunca termino. Adoro criar, mas não consigo concretizar. Talvez fazer essas atividades que exigem um fim imediato (do contrário, seu carro fica sujo ou manchado ou sei lá) acabam me impulsionando a fazer as coisas que eu tenho que fazer…

E olha, deu certo. Depois de 82947 anos, estou escrevendo aqui novamente. Não é minha intenção fazer desse blog uma coisa passageira. Escrever faz bem, todos deviam tentar. Mas como todas as outras coisas dessa minha existência, ele já está(va) ficando de escanteio.

Existe um verdadeiro abismo entre querer fazer e fazer. Chegar a essa conclusão foi uma das coisas boas de 2013. Em 2014, espero encontrar algo maior que isso. Mas se não encontrar, pelo menos já sei que posso abrir um lava-jato e serei bem-sucedida (pode chamar o lava-jato de A1? #breakingbadforever).

Hoje me senti bem Grifinória: tive corajem. Tava raro esse sentimento aqui dentro…

Só mais uma coisa… As costas ficam destruídas. Mas dane-se. Trabalhar faz bem…

E aqui fica a deixa para um próximo texto de auto-ajuda post.

a1day

2.6

Quando estou me acostumando com determinado número, chega o dia 11 de dezembro e eu tenho que me acostumar novamente com a minha nova idade.

Quando criança, uma pessoa de 26 anos era, na minha limitada visão e aguçada imaginação, um adulto sábio, completo, que sabia o que queria e fazia o que queria. Achava que ao chegar aos 18 eu começaria a caminhar nessa direção e, aos poucos, iria adquirindo todas essas qualidades. Daqui do mundinho fácil mediano, cheguei aos 18 me sentindo tão adolescente quanto aos 15. Aos 21, a fase adulta se resumia a festas, festas e mais festas, uma energia para aproveitar a vida e se divertir sem restrições. Era ser adolescente com privilégios. O tempo foi passando, a vida foi passando, e eu continuei esperando. Ao fazer 25, pensei no peso que representava o “um quarto de um século” e passei a me questionar por que aquela ideia que eu tinha quando criança estava se revelando tão falha. Cheguei aos 26 e vejo um ser que muda, mas que está longe, muito longe do que eu tinha em mente.

Não houve nenhum “start” depois que me formei, tampouco depois que fiz a pós-graduação, e também não acho que nenhum botão no controle da vida vai ser pressionado quando eu sair de casa. É tudo muito contínuo, essa ideia de “minha vida muda a partir de tal fato” é uma ilusão que só funciona nos livros e nos filmes… Começamos a andar e a paisagem vai passando, não temos que esperar o anoitecer ou o amanhecer para ser tal coisa.

Ao olhar o mundo dos adultos, no qual, sem perceber, eu já estou inserida há algum tempo, pude concluir superficialmente que somos todos crianças grandes. Só que alguém achou que ser adulto era sinônimo de uma grande coisa e acabou que o adulto ganhou uma moral que ele não tem. Isso tudo na minha cabeça.

Nunca foi assim, Rebs.

Vejo um mundo de adultos inseguros e aflitos, tal como uma criança em seu primeiro dia de aula. Vejo adultos que se vangloriam por ter o carro mais caro, tal como o coleguinha rico que tem o carrinho de controle remoto e se acha melhor que os demais por isso. Vejo adultos com carreiras profissionais definidas, mas que se encontram tão perdidos na própria vida quanto uma criança perdida dos pais no supermercado. Já vi gente grande soluçando igual a uma criança que perdeu seu brinquedo preferido porque seu melhor amigo canino morreu (minha vez ainda vai chegar e eu não estou preparada para isso). Vejo homens e mulheres se casando para logo em seguida se separar, como se fosse uma brincadeira de Barbie. Vejos pessoas próximas fazendo coisas tão estúpidas e inconsequentes quanto uma criança que não sabe os perigos de atravessar uma rua movimentada. Todos os dias vejo meus modelos ideais dissolvendo-se em seres humanos cheios de falhas, que às vezes morrem sem sequer chegar perto do que eu imaginava que seria…

Vemos os nossos pais e os pais dos nossos amigos, assim como nossos familiares mais velhos, não mais como seres superiores e sabedores da verdade absoluta, mas como iguais seres humanos, cuja opinião às vezes te choca de tão absurda. O avô racista, a vovó homofóbica, a tia e o tio machistas e o bom e velho primo que fura a fila do caixa e adora falar que “bandido bom é bandido morto!”. Você vê amigos seus fazendo escolhas erradas, ou não fazendo escolha nenhuma, achando que depois disso a vida deles vai se resolver, mas na verdade entram em um ciclo vicioso de sabotagem e ficam reféns dos resultados. E ah! Aquele professor do colégio, que além de te ensinar a escrever, calcular e entender o funcionamento do corpo humano, era referência de pessoa inteligente e sábia… Mas que hoje, quando escreve algo no facebook, demonstra que estagnou no tempo e possui a opinião de alguém que nunca saiu da caixinha…

Sei que muita gente pode ter percebido isso antes dos 26, assim como tem gente que nunca parou para pensar nisso. Mas que bom que a ficha caiu pra mim. Parece que fui míope a vida inteira e só agora meus óculos ficaram prontos. As coisas estão mais nítidas.

Ressalto que falo isso daqui de onde eu estou… O que é nada diante de todo o resto do mundo. Apenas uma mera observação…

=)